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Infulene, Maputo, Mozambique
Sou amigo de quem gosta de ser amigo, e o meu perfil de pessoa e como missão, é ajudar as pessoas e fezê-las perceber a importância da nossa relação humana nesta terra. Sou aberto para todos, aberto para aprender e ensinar e sempre pronto para um diálogo.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Amizade




Introdução


O homem vive em relação com os outros, manifesta sua afectividade e necessita desse mesmo afecto, logo ele é um ser incompleto quando sozinho convive sem amigos. Este mesmo homem para se sentir feliz, deve estar a par da realidade humana, pois, toda felicidade brota da unidade e sociabilidade.
Vivemos, crescemos, amadurecemos, mas estamos ligados aos outros duma ou de outra maneira, como forma de pertencer a classe dos que vivem associados e associam-se aos outros. Verdadeiramente cada um de nós, precisa do outro, mesmo quando está em festa, ou ainda em tristeza pessoal ou familiar. Os amigos são chaves da nossa felicidade, porque através deles encontramos um abrigo de vida.

1. Definição
“A amizade é qualidade estrutural que tem existência e sentido em situações concretas, amizade é valor moral e espiritual que se apoia, duplamente na realidade”[1] da nossa vida, pois Deus fez o homem a sua imagem não para conviver sozinho, mas para encontrar nos outros complemento do seu significado humano e relacional.

A amizade procura na pessoa a fonte energética de rejuvenescer na simplicidade de compreensão, partilha e outros meios que façam da pessoa feliz. Porque “o convívio e o amor dos amigos é capaz de perdurar mesmo a distância, e mesmo quando as afinidades entre as suas vidas andam lado a lado”[2], o que quer dizer que a base fundamental da amizade está na sua propagação mútua.

Ser amigo constitui uma nova criação, um novo convívio, uma nova morada e uma nova atitude de pensar, agir, comportar-se e sobretudo criar um espaço de fazer nova família.

2. Tipos de amizade
É verdade que há uma variedade enorme de tipos de amizades: as mais íntimas, as de balada, as do trabalho, as que os abraços são para comemorar os golos que sua equipe marcou e até aquelas em que um corre para os braços do outro para se consolar de uma frustração romântica. Como não existe régua ou dosador para sentimentos, é impossível classificá-las, mas dá para identificar algumas atitudes de homens e de mulheres quando decidem ser amigos (lembre-se: apenas bons amigos). "Isso vai ser possível dependendo da idade, do passado e do grau de maturidade de cada um.

2.1. Temperamento
É o conjunto das tendências orgânicas que condicionam as disposições originais da vida afectiva, o quer mostra a primazia da vida afectiva na formação do carácter.

2.2. Carácter
O carácter não é todo o indivíduo mas só que o indivíduo possui como resultante das hereditariedade que se vieram cruzar nele.


2.3. Estrutura da amizade
Consiste em tomar consciência dos nossos sentimentos; de optar por um modo de pensar e de agir, seguindo um sistema fundamental de valores; ter capacidade de renunciar e de tomar decisões; assumir responsabilidade; viver os valores com uma postura humana e atitude positiva.

2.4. A amizade deve estar no coração
A principal forma do segredo da amizade, traduz em si a verdade humana, o que quer dizer que toda amizade deve vir do interior da pessoa e pela sua inteligência ele a desenvolve no exterior com os demais.

“É importante e, urgente, estender este culto a toda a comunidade pois ele está destinado”[3]. E se ele está destinado é porque devemos cuidar e encaminhar com todo amor ao próximo. Alias, só nos sentimos total quando nos misturamos com os outros. Quando partilhamos a nossa amizade e dela colhemos fruto da felicidade.

2.5. Amizade como porta do auto-conhecimento
Conhecer-se é fundamental e importante, pois cada passo marcado é uma revelação humana, é uma descoberta de nós mesmo, mas para isso é fundamental o auto-conhecimento. Os amigos me ajudam a me descobrir na medida em que me abro a eles, perspectivando em mim um bom ambiente de convivência humana.

Como diz o escritores já citado neste livro (Carlos G. Valles) no seu livro viver em comunidade: Sonho e realidade na vida religiosa: “preciso de ter amigos, antes de tudo, para conhecer-me a mim mesmo. Conhecimento próprio é o ponto de partida e a condição essencial de cada busca espiritual, humana ou divina; e é o paradoxo iniludível que o conhecimento próprio não possa ser obtido pela própria pessoa”[4].

É neste termo ou caminho que a pessoa vai se conhecendo, na medida em que caminho para o outro e nele se revela. Foi também um dos meios em que Jesus Cristo se revelou, se revela e revelará para todos nós, como forma de conhecê-lo e vivê-lo como meio de salvar nossa felicidade.

“Precisamos de amigos, amigos verdadeiros, próximos, íntimos, para encontrar força e firmeza na vida, para enfrentar as dificuldade e ir em frente, para manter o equilíbrio”[5], social e individual para que minha personalidade seja por mim conhecida e enriquecida pelos outros.

3. Característica da verdadeira amizade
“A amizade se caracteriza pela reciprocidade razoavelmente equilibrada de expressão, de sentimentos positivos e de atitudes voltada para o bem-estar e a felicidade do outro”[6], é esse contexto que liga-nos dos outros como forma de criar um envolvimento conjunto do crescimento.

“Uma relação de amizade pode se desenvolver naturalmente a partir dos diferentes contextos de convivências, mas também pode ser buscada junto”[7] aos outros indivíduos que cercam nossa vida, sendo eles a necessidade mais urgente da nossa felicidade diária e continua.
3.1. Amizade como fonte
É aquela que brota e sai de si mesma, indo ao encontro de quem precisa de água, sem esperar que a procurem. O amigo vai ao encontro de quem precisa da sua amizade, não espera que o procurem. portanto, sair de si e ir ao encontro do outro.

A amizade é, portanto, sempre uma renovação para quem a oferece e quem a recebe, é uma vida nova que começa.

3.2. A amizade como uma linha horizontal
É a parte horizontal do coração para o outro coração (outra pessoa), mas também se eleva verticalmente para Deus. Por isso se diz que “o caminho para Deus é pelo coração do homem”.

A amizade meramente horizontal, de homem para homem, que não se completa numa visão cristã, onde se ama alguém por causa de Cristo, não basta porque não têm sentido pleno. É preciso que, por meio de um amigo, nós nos projectemos para Deus.

3.3. A amizade como sentido da vida
Quando parece vazio, confuso a presença de uma amigo quebra nossa solidão. As vezes basta apenas um sorriso amigo para aprendermos a sorrir novamente, volta a nossa alegria de viver, a nossa esperança.

Dar sentido à vida significa colar na pessoa a importância de viver em comunidade, de encontrar a força e viver na fé de Jesus Cristo. De descobrir os valores e importância que a pessoa possui para os outros.

3.4. A amizade como ânimo
Para uma luta diária, nada melhor do que a compreensão de um amigo para sairmos de um período de depressão, de angústia. Às vezes, a palavra amiga de uma pessoa, é suficiente para que tudo comece a melhorar.

É verdade que muitas vezes nos encontramos em situações delicadas, em depressão, com sinais de derrotismo, perda de fé e falta de esperança, mas é neste momento em Deus te coloca uma prova de quanto és forte, de quanto podes superar as angústias, as brigas etc.
Deus te coloca um desafio que só tu podes encontrar e trilhar para a sua vitoria, ganhar ânimo significa em si recomeçar novos caminhos, procurando desta forma um novo contacto com a felicidade, tranquilidade.

3.5. A amizade como responsabilidade
A responsabilidade tem se tornado motivos para sermos amigos das coisas, das pessoas, da vida em si como um mistério. Quando temos amizade por alguém, tomamos cuidado com essa pessoa, querendo que ela ande sempre pelo bom caminho, e se, por acaso notamos que ela corre perigo, fazemos uma advertência que, nesse caso, é sempre um gesto amigo (responsabilizamo-nos dos outros).

3.6. A amizade como caminho do crescimento
Fazer crescer na medida em que cada um de nós vai crescendo, nossos amigos também vão crescendo, vão tomando importância e necessidade da amizade para o crescimento, pois ocorre entre ambos um continuo dar e receber, um fica alegre e feliz porque o outro assim se sente.

O segredo da verdadeira amizade é colocarmos Deus entre nós. Quando Deus não está presente não há pureza, e não havendo pureza, não há amizade, há só interesse.

“Todo amigo dirá: Eu também contraí amizade contigo. Há, porém, amigos que só o são de nome. Não causa isto uma dor que perdura até a morte”[8], somos convidados a construir amizade pelo perdão, amando os nosso inimigos tornando-os irmãos e amigos.


4. Intimidade e a Delicadeza
Cada um de nós tem verdades que quer guardar só para si. Queremos mantê-las escondidas dos outros; são segredos íntimos, “mistérios pessoais” que formam parte da estrutura fundamental de cada um de nós. Mas não são tão pessoais a ponto de excluírem o nível da convivência.

Só a pessoa que tem intimidade com o outro pode conviver; por isso, fala-se em “amigos íntimos”, ou em “clima de intimidade”.

Quando a pessoa decide partilhar um segredo ou sua intimidade, o que revela é algo de si, de seu ser, de sua essência. Isso é feito para alguém a quem aceita, de quem gosta e em quem confia de verdade. Pois, partilhar intimidade é uma experiência que deve ser vivida com quem nos aceita como somos, nos respeita e tem as melhores intenções, ou seja, deseja nos ajudar. A intimidade implica aproximação com respeito.

A amizade se compõe fundamentalmente de dois elementos: querer-se e compreender-se. O coração e a mente. O amor e a comunicação. Abrir minha vida a um amigo, revelar-me a ele como sou e deixar que ele se revele a mim, e depois sentir com ele e exprimir a ele o mais profundo e rico dos sentimentos, que é o amor humano íntimo e pessoal.
Jesus percebeu em si mesmo este duplo movimento da amizade humana, e o exprimiu claramente: “Como o Pai me ama assim eu também vos amo”[9].

Não é fácil manifestar ao amor que temos. Desconfiamos das palavras, menosprezamos os sentimentos, fugimos do sentimentalismo. O amor deve ser efectivo e prático. Obras são amores e não boas razões. “O amor se mostra em obras do que em palavras”.

A intimidade deve ser cuidada, merecida, conquistada. Para ir crescendo na intimidade, quero ser transparente para meu amigo, limpo de sombra e livre de toda dúvida; quero ser terno e delicado, ao mesmo tempo que firme e decidido, não quero depender dele nem fazer com ele dependa de mim.

A delicadeza é a alma do diálogo, a chave de uma feliz vida em comum, o meio privilegiado do desenvolvimento pessoal e da mais íntima satisfação. Entender, dar-se conta, sentir. O receptor, a antena, o comprimento da onda, captar impressões, reflectir sentimentos, respeitar a pessoa. O entendimento espontâneo e a relação instantânea. Tudo é delicadeza. A delicadeza de sentimento é a perfeição da caridade. Pois “se o homem responde afirmativamente ao convite de Deus”[10], este já está aceitar ser delicado para com os outros, aceitar intimidar-se pela palavra amiga.


Concluindo


É possível gerenciar e investir nessa amizade, independente de qualquer outro sentimento que possa vir a existir. Realmente uma amizade pode ser prejudicada por um relacionamento infeliz, mas isso não quer dizer que será sempre desfeita, ou que, desfeita, não possa ser retomada.

Se na verdade existe uma amizade, então haverá uma segurança e confiança entre ambos (homem e mulher ou família) para estabelecerem alicerces da sua amizade.


A amizade é uma flor a perfumar, ter amigos é sentir o infinito, pois, sem amigos não dá para caminhar!

Eugénio Romeu André Tomás - Genito
[1] Rodrigues, Fernando Iorio. Pequenas histórias, grandes lições. Editora Paulinas. São Paulo, 2003. Pag. 73
[2] Valles, Carlos G. Viver em comunidade: Sonho e Realidade na Vida Religiosa Editora Loyola São Paulo, 1987. Pag. 195

[3] Nunes, João Carlos H. Reacendamos nossas esperanças. Pag.13. Dezembro de 2007
[4] Valles, Carlos G. Viver em comunidade: Sonho e Realidade na Vida Religiosa Editora Loyola São Paulo, 1987.
[5] Valles, Carlos G. Viver em comunidade: Sonho e Realidade na Vida Religiosa Editora Loyola São Paulo, 1987.
[6] Del Prete, Almir. Psicologia das relações interpessoais: Vivências para o trabalho em grupo 2ª. edição Editora Vozes. Petrópolis, 2002. Pag. 98-99
[7] Del Prete, Almir. Psicologia das relações interpessoais: Vivências para o trabalho em grupo 2ª. edição Editora Vozes. Petrópolis, 2002. Pag. 99

[8] Cfr. Sir 37, 1 – 2
[9] Cfr. Jo. 15,9
[10] Larranaga, Ignacio. Mostra-me o teu rosto: A caminho da intimidade com Deus. 3ª. Edição. Editora Paulistas. Lisboa, 1988. Pag. 263

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